COORDENADOR DE OPERAÇÕES DE PAZ DA ONU ALERTA SOBRE ESCALADA NO MÉDIO ORIENTE
Médio Oriente: O fogo cruzado
entre Israel e o Líbano cria um sério risco de uma guerra total no Médio
Oriente, afirma o Subsecretário-Geral da ONU para as Operações de Paz,
Jean-Pierre Lacroix, em entrevista à Euronews, em Bruxelas.
Fonte: Euronew
Jean-Pierre Lacroix está
particularmente preocupado com os ataques a Israel a partir do sul do Líbano -
na chamada Linha Azul, demarcada pela ONU - por parte da milícia Hezzbollah,
apoiada pelo Irão, e com as ações
do governo de Telavive no seu vizinho do norte, incluindo em Beirute, a
capital.
O diplomata visitou,
recentemente, a região e falou à Euronews sobre a necessidade de desescalada
política, antes de participar no Conselho de Ministros da Defesa da UE,
sexta-feira, em Bruxelas.
"Presto especial atenção
à situação que temos a nossa missão
UNIFIL (Missão de paz da ONU no Líbano) e o risco de escalada continua
a ser muito, muito grave. Estamos a falar de escalada regional porque esta
situação em Gaza, e várias outras situações no Médio Oriente, estão todas muito
interligadas", explicou o alto diplomata francês, que semestralmente se
reúne com os ministros da União Europeia com esta pasta.
Desde que Israel iniciou a
operação militar na Faixa de Gaza, após um ataque terrorista do grupo armado
palestiniano Hamas, a 7 de outubro passado, vários incidentes mostram a
propagação do conflito aos países vizinhos.
O mais importante é o Irão,
incluindo pelo apoio que dá a milícias, não só no Líbano, como também no Iémen,
no Iraque e na Síria. Estas
milícias têm aumentado ataques que justificam como retaliação pelas
operações israelitas na Faixa de Gaza e noutros territórios palestinianos.
“Temos assistido a episódios
de retaliação que contribuem para manter um elevado risco de uma escalada
regional para além do que já estamos a assistir em Gaza. Assim, obviamente, os
esforços em curso ao nível das conversações para a paz em Gaza são extremamente
importantes", referiu Jean-Pierre Lacroix.
Os riscos de retaliação do
Irão
No seguimento da atual guerra
em Gaza, um dos momentos mais tensos entre Israel e Irão aconteceu na
primavera, quando ataques aéreos israelitas contra Damasco, capital da Síria, a
1 de abril, mataram oficiais iranianos que se reuniam num edifício diplomático.
Duas semanas depois, o Irão
lançou o seu primeiro ataque direto contra o território de Israel, com uma
barragem de 300 mísseis e drones, repelidos quase na totalidade pelos sistemas
de defesa aérea (Telavive contou com ajuda dos meios militares dos EUA na
região).
O Irão é, obviamente, um ator
importante na região, que está envolvido de diferentes formas nas discussões
que estão a acontecer para tentar alcançar a paz.
Jean-Pierre
Lacroix
Subsecretário-Geral da
ONU para as Operações de Paz
Houve outros casos que
envolveram vítimas entre civis, mas a situação agudizou-se quando Ismail
Haniyeh, um alto funcionário político do Hamas, foi morto em Teerão (capital
iraniana), a 31 de julho, para onde se deslocou a fim de participar na tomada
de posse do novo presidente do Irão, Masoud Pezeshkian.
O governo de Israel não
confirmou, mas também não negou a responsabilidade na explosão que matou o
dirigente no seu quarto de hotel, operação que terá sido levada a cabo pelos
serviços secretos israelitas.
No dia seguinte, os EUA
reforçaram o destacamento militar no Médio Oriente, já
que o Irão prometeu retaliar contra Israel. Quase um mês depois, a
ameaça ainda não se materializou, mas preocupa a ONU.
"O Irão é, obviamente, um
ator importante na região, que está envolvido de diferentes formas nas
discussões que estão a acontecer para tentar alcançar a paz. Depois do que
aconteceu em Teerão, há especulação em termos de uma possível reação do Irão,
mas não vou contrubuir para isso", disse o Subsecretário-Geral da ONU.
Que futuro em Gaza após o cessar-fogo?
Vários membros do Conselho de
Segurança da ONU falam sobre a possibilidade de criar uma futura missão de
manutenção da paz em Gaza. Mas Lacroix diz que "é prematuro", pois
exigiria o acordo das partes envolvidas, direta e indiretamente, no conflito, e
o voto unânime dos cinco membros do Conselho de Segurança da ONU (EUA, Rússia,
China, França, Reino Unido).
Mas há outra condição
importante para o diplomata: "Qualquer presença de terceiros - e
certamente que isto se aplica às missões de manutenção da paz da ONU - também
tem de ser aceite pelas comunidades locais, pelas partes locais. Elas têm de
considerar que a missão faria uma diferença positiva nas suas vidas".
Tal como solicitado pela UE e
por outras potências, Israel
acaba de concordar com três pausas nos combates em Gaza, a partir da
próxima semana, para permitir uma campanha de vacinação contra a poliomielite a
cerca de 640 mil crianças.
No que se respeita a missões
de paz, os Estados-membros devem dar mais apoio político, para além do envio de
soldados. As missões de paz não têm objetivos militares, mas políticos.
Jean-Pierre
Lacroix
Subsecretário-Geral da
ONU para as Operações de Paz
Mas
as negociações para um acordo de cessar-fogo de longa duração, proposto
pelos EUA e que está a ser negociado com a ajuda do Qatar e do Egipto,
continuam num impasse .
Lacroix considera que as
pausas para a vacinação representam um "importante esforço humanitário, de
muito curto prazo", mas repete que só a cessão total das hostilidades
permitirá fazer baixar o risco de alastramento do conflito na região, pelo que
a União Europeia (UE) deve manter a pressão diplomática.
"A UE e vários dos seus
Estados-membros contribuem politicamente e com tropas para as operações de
manutenção da paz no Médio Oriente. Vou agradecer aos ministros por isso, mas
também realçar que estão a desempenhar um papel importante em termos de apoio
aos esforços de desanuviamento, que são extremamente importantes",
afirmou.
Que futuro para o
multilateralismo?
As Nações Unidas vão organizar
uma Cimeira do
Futuro, a 22-23 de setembro, na sua sede em Nova Iorque (EUA), com o
objetivo de criar consenso entre os 193 países para reforçar o multilateralismo
e as respostas coletivas para os desafios de paz e segurança, desarmamento,
alterações climáticas e desenvolvimento sustentável.
"No que se respeita a missões de paz, os Estados-membros devem dar mais apoio político, para além do envio de soldados. As missões de paz não têm objetivos militares, mas políticos e devem ser apoiadas por outras ferramentas tais como combate à desinformação, às atividades criminais transfronteiriças e às alterações climáticas, que estão a fomentar cada vez mais conflitos", explicou Jean-Pierre Lacroix.
BENGUELA7 A NOTÍCIA EM TEMPO
REAL
Comentários
Enviar um comentário