MOÇAMBIQUE: POLÍCIA LANÇOU GÁS LACRIMOGÉNEO PARA DISPERSAR MARCHAS PACÍFICAS
Maputo – A capital moçambicana foi palco nesta segunda-feira de confrontos entre manifestantes, que atiram pedras e incendeiam pneus nas ruas perto da Avenida Joaquim Chissano, e a polícia, que dispersou populares com recurso a gás lacrimogéneo e tiros para o ar. A cidade de Maputo continua paralisada; os comércios, as instituições públicas e privadas não abriram portas a 21 de Outubro, nem há transportes públicos e de passageiros.
Fonte : RFI
Centenas de cidadãos saíram
esta segunda-feira, 21 de Outubro, para as ruas na capital moçambicana, em
Maputo, mas também noutros pontos do país, para manifestar contra o assassínio
de dois membros do partido PODEMOS. Os protestos surgem depois do duplo
assassínio de duas figuras da oposição deste fim-de-semana e depois de ter sido
convocada uma greve nacional, em protesto aos resultados das últimas eleições
gerais.
Os manifestantes exigem que
sejam conhecidos os autores dos assassinos do assessor jurídico do candidato
presidencial Venâncio Mondlane, Elvino Dias, e do mandatário nacional
do partido PODEMOS, Paulo Guambe, assassinados entre a noite de
sexta-feira e a madrugada de sábado. Os manifestantes reclamam, ainda, a
vitória nas eleições gerais de 9 de Outubro.
A Polícia da República de
Moçambique lançou esta segunda-feira gás lacrimogéneo para dispersar um grupo
que se preparava a participar em marchas pacíficas. As autoridades também
recorreram ao gás lacrimogéneo e a balas de borracha para dispersar manifestantes
em Pemba, na província de Cabo Delgado, onde manifestantes também responderam
ao apelo do candidato presidencial, Venâncio Mondlane.
Foi no local do duplo
homicídio, na avenida Joaquim Chissano, em Maputo, que os cidadãos se
concentraram perante uma forte presença policial, após a convocação de greve
nacional.
A polícia lançou disparos e
usou gás lacrimogéneo para dispersar manifestantes. Vários cidadãos ficaram
feridos incluindo dois jornalistas. "Entregamos o nosso sangue.
Nós estamos aqui aconteça o que acontecer. Aconteça o que acontecer, vamos
morrer juntos", afirmou Gloria Salvador.
A situação deteriorou-se
quando a polícia, justificando a acção com alegações de que as marchas não
estavam autorizadas, começou a utilizar gás lacrimogéneo para dispersar os
manifestantes. O uso da força gerou confusão e pânico entre os presentes, que
tentavam proteger-se da inalação do gás lacrimogéneo. Relatos de feridos e
pessoas em estado de choque começaram a surgir, levantando preocupações sobre a
resposta da polícia a manifestações pacíficas.
O porta-voz do comando geral
da polícia, Orlando Modumane, reagiu e anunciou várias detenções. "Detivemos
seis indivíduos; três aqui na cidade de Maputo que estavam a queimar pneus na
via pública, na avenida Julius Nyerere. Outros foram detidos na província de
Maputo, na cidade da Matola, também por estarem a queimar pneus. Os restantes
foram detidos na província de Gaza, distrito de Bilene, também por estarem a
queimar pneus na via pública", enumerou.
Em entrevista aos jornalistas,
o candidato presidencial Venâncio Mondlane expressou a sua indignação contra a
acção policial, classificando-a de uma violação dos direitos humanos e
uma tentativa de silenciar a voz do povo". "Se o cidadão não
consegue exercer os seus direitos, então isto é pior do que um estado de
guerra. Estes aqui é que são os verdadeiros terroristas. Em Cabo Delgado temos
insurgentes, mas aqui, em Maputo, nas forças de defesa e segurança, é onde nós
temos os verdadeiros terroristas deste país”, denunciou Venâncio Mondlane.
O candidato presidencial,
suportado pelo partido PODEMOS, reivindica vitória nas eleições gerais de 9 de
Outubro e promete luta pela justiça eleitoral
"Nós estamos a prever
mais ao menos 4 etapas que vão fazer parte do projecto de reivindicação e do
projecto de repudio a este roubo que aconteceu eleitoral."
Segundo Venâncio Mondlane, a
greve nacional convocada teve uma adesão de 95%.
A comunidade internacional
observa atentamente a situação em Moçambique. A resposta da polícia não
está a passar despercebida. Organizações de direitos humanos e activistas
locais condenaram a acção policial, destacando que o uso de gás lacrimogéneo em
manifestações pacíficas é "uma prática inaceitável" e
"contrária aos princípios democráticos". A Amnistia
Internacional e a Human Rights Watch, manifestaram preocupação com a
escalada da repressão contra opositores políticos em
Moçambique. Diplomatas e representantes de organizações não-governamentais
têm pedido ao governo moçambicano que respeite os direitos humanos e de
expressão, fundamentais numa sociedade democrática.
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