JOÃO LOURENÇO À CAMINHO DA CHINA. DÍVIDA ANGOLANA E GEOPOLÍTICA MARCAM A VISITA DO ESTADISTA ANGOLANO
Luanda: O Presidente angolano realiza a partir desta sexta-feira, 15, uma visita oficial de três dias à China, na qual vai encontrar-se com o seu homólogo Chines, Xi Jinping, com o primeiro-ministro, Li Qiang e o presidente do Parlamento, Zhao Leji.
Fonte: VOA
A China é, atualmente, o maior credor de Angola, ao abrigo de várias linhas de
crédito abertas pelo Governo de Pequim, através de bancos estatais.
Até 2019, a dívida angolana era calculada em cerca de 23 mil milhões de dólares
e o pagamento feito com o valor da venda de petróleo.
Para analistas económicos e políticos angolanos, o pagamento de dívida será um
assunto “incontornável” durante as discussões, a par do investimento chinês em
Angola, em meio à atual concorrência de investidores americanos em vários
setores da economia, em particular no Corredor do Lobito, que inicialmente
tinha sido adjudicado a empresas chinesas.
Empréstimos e mais empréstimos
O especialista em gestão de empresas Estevão Gomes considera a China "um
parceiro estratégico para Angola nos últimos 20 anos e uma fonte primordial de
financiamento a médio e longo prazo”.
Ele aponta a "renegociação da dívida" como uma das
razões principais da visita de João Lourenço.
Aquele economista entende que a presença de empresas chinesas em Angola é uma
forma do país asiático reafirmar a sua condição de um dos líderes económicos
mundiais em África.
“A disputa entre a China e os EUA representa a luta geopolítica para ver quem
terá o domínio da gestão dos investimentos e da exploração dos recursos
naturais em Angola”, sublinha Estevão Gomes.
Aquele analista económico também lamenta a forma como foi gasto os empréstimos
chineses por gestores angolanos, a ponto de uma boa parte ter caído nas mãos de
particulares.
“Porque estrategicamente a China confiou, naquela altura, na transparência que
o nosso Governo apresentava a nível da gestão pública. Mas agora o Governo
chinês exigiu que os timings que foram estabelecidos para o ressarcimento da
dívida fossem cumpridos na íntegra, causando praticamente o défice cambial no
nosso mercado”, sustenta Estevão Gomes.
Jogos geopolíticos
Cesário Zalata, especialista em relações internacionais, considera que a
disputa do mercado angolano entre a China e os EUA faz parte da luta pela
influência em África, levada a cabo pelas duas potências económicas mundiais.
“ E Angola tem estado a fazer uma diplomacia inteligente de cortesia que não
entra em colisão quer com a China quer com os EUA”, aponta.
Zalata destaca o investimento chinês em Angola depois da guerra civil, mas dá
nota negativa ao fato de o valor real da dívida angolana nunca ter sido
revelado e de muito dinheiro emprestado pela China ter parado na mão de alguns
dignitários angolanos em detrimento do Estado.
“Razão pela qual há aqui uma espécie de vergonha de se poder divulgar o nível
real da dívida porque se esse valor for anunciado as pessoas darão conta que
grande parte desse dinheiro não foi utilizada para benefício de interesses
públicos ”, aponta Cesário Zalata.
Entretanto, o jornalista Ilídio Manuel é de opinião que a abertura de Angola ao
investimento americano pode não estar a agradar a China por receio de perder ou
reduzir o volume de investimentos, a favor de empresas americanas.
Manuel ressalta que o fato de Pequim ter ficado seis meses sem nomear um
embaixador para Angola “significa que houve irritante diplomático”, que, em
última instância, pode também levar a China a pressionar o pagamento da dívida
“nos moldes em que foi acordado”.
“Os americanos podem também não estar a ver com bons olhos (a presença
chinesa), uma vez que o objetivos da sua aproximação à África é justamente
reduzir a influência chinesa”, conclui aquele analista político.
Agenda em Pequim
Na sequência das conversas do Presidente angolano com as mais altas entidades
da China, uma declaração conjunta deve ser divulgada, segundo a nota de
imprensa enviada às redacções.
Nesta sua segunda visita oficial a Pequim, João Lourenço vai ainda participar
num fórum de negócios sobre investimento em Angola e conversar com empresários
chineses, incluindo os que já atuam no mercado nacional.
A delegação presidencial tem previstas deslocações à província de Xandong para
contatos com setores da indústria têxtil, farmacêutica e agrícola.
Maior
parceiro em África
Desde 2007, Angola é o maior parceiro comercial da China em África, com um
volume de negócios que registou, só em 2010, um total de 24,8 mil milhões de
dólares norte-americanos.
Dez anos mais tarde, o valor das trocas comerciais com a China
ascendeu os 61 por cento, ou seja, para 5,55 mil milhões de dólares.
Em 2018, a China aprovou uma nova linha de financiamento de dois mil milhões de
dólares norte-americanos.
Esta parceria assenta-se na
igualdade e benefícios mutuamente vantajosos, e pode, também, para além de
contribuir para o desenvolvimento dos dois países, ajudar no estabelecimento de
uma nova ordem política e económica internacional e promover a democratização
das relações internacionais.
Em Angola, a China opera nos mais variados domínios da vida económica e social
do país, com forte presença nas áreas de formação de quadros, caso da
construção e apetrechamento do Centro Integrado de Formação Tecnológica
(CINFOTEC) e da Academia Diplomática Venâncio de Moura e bolsas de estudos para
os jovens angolanos.
As relações entre Angola e a China datam de 1983 e conheceram o seu ponto mais
alto a partir de 2000 quando o gigante asiático começou a fazer empréstimos ao
país para a reconstrução de infraestruturas destruídas pela guerra e para
alavancar a economia nacional.
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