JUVENTUDE EM BENGUELA DIZ QUE A JUVENTUDE NÃO É APENAS O FUTURO, MAS O PRESENTE ACTIVO E TRANSFORMADOR DA SOCIEDADE
Benguela: A Conferência Provincial da Juventude encerra os seus trabalhos com a firme convicção de que a juventude não é apenas o futuro, mas o presente activo e transformador da sociedade.
Reação: Benguela7
O comunicado final da 10.ª conferência Provincial da Juventude que decorreu no município do Cubal nos dias 11 e 12 de Agosto, que albergou um total de 188 jovens vindos de diversos municipios, diz, num momento em que Angola celebra os 50 anos de Independência e implementa profundas reformas administrativas, os jovens reafirmaram o seu compromisso com a construção de uma nação mais justa, participativa e inclusiva, demonstrando maturidade cívica, espírito crítico e vontade de contribuir para o progresso do país.
O documento que tem uma “mão” cheia de recomendações espelha que as reflexões e propostas apresentadas durante o certame constituem uma base concreta para a formulação de Políticas Públicas mais eficazes, que respeitem a diversidade da juventude angolana e garantam que nenhum jovem seja deixado para trás.
JORNADA PROVINCIAL DA JUVENTUDE 2025
10.ª CONFERÊNCIA PROVINCIAL DA JUVENTUDE
COMUNICADO FINAL
Nos dias 11 e 12 de Agosto de 2025, o Anfiteatro do Instituto Politécnico do Cubal foi palco da 10.ª Conferência Provincial da Juventude, sob o lema “Acções Locais da Juventude para os ODS além” um apelo da Organização das Nações Unidas aos jovens a engajarem-se de forma activa, criativa para o alcance dos Objectivos de Desenvolvimento Sustentável. O evento reuniu 188 participantes, entre os quais 72 mulheres — um sinal claro do compromisso crescente com a inclusão e a equidade e contou com o apoio da União Europeia, através dos projectos PASCAL, CHANCE e Te L´vando.
Especialistas, académicos, líderes comunitários, representantes de Organizações da Sociedade Civil, Activistas, Instituições Públicas, religiosas e da comunicação social estiveram juntos numa plataforma de diálogo construtivo e participativo, reafirmando o papel central da juventude na construção de um futuro sustentável.
No início da sessão, a Sr.ª Estrela Francisco – Coordenadora Municipal da ADRA na Baía Farta e Dombe Grande em representação da organização do evento, saudou os circunstantes e apresentou de forma clara os objectivos da 10.ª Conferência Provincial da Juventude, destacando a importância do evento como espaço de reflexão, participação activa e compromisso da juventude com o desenvolvimento sustentável.
O discurso de abertura foi proferido pelo Eng.º António Andrade, Administrador Municipal Adjunto para a Área Técnica, Infra-estruturas e Serviços Comunitários do Cubal, em representação de Sua Ex.ª o Sr. Paulino Binguela Banja, Administrador Municipal do Cubal. Na sua intervenção, saudou os participantes e destacou a relevância da conferência como um momento ímpar de escuta e partilha dos anseios, preocupações e desafios vividos pela juventude, incentivando os jovens a adoptarem comportamentos responsáveis e comprometidos com a construção de um futuro melhor.
Na sessão do primeiro dia, os trabalhos foram organizados em quatro painéis, mas foram abordados apenas dois. Um dos painéis abordou a temática da Saúde Sexual e Reprodutiva, com foco na análise de dois temas principais: o acesso à informação e aos serviços de saúde sexual e reprodutiva nas comunidades, e a educação sexual nas escolas — seus limites, oportunidades e o papel da juventude.
O segundo painel, subordinado ao tema “A Juventude e o Clima: Acção Ambiental Sustentável”, reflectiu sobre questões relacionadas ao papel da juventude no combate às mudanças climáticas e na promoção da justiça ambiental.
Os debates foram enriquecidos por meio de trabalhos em Grupos Temáticos, que possibilitaram o aprofundamento de propostas concretas voltadas à transformação dos desafios enfrentados pelos jovens em oportunidades reais. Como resultado, foram elaboradas as seguintes recomendações e sugestões:
Painel 1: Empreendedorismo, Emprego e Inovação Social Juvenil
a) Qualidade da educação no contexto local: desafios e soluções propostas pelos jovens
O Governo deve criar comités consultivos juvenis em escolas e universidades para alinhar o ensino às realidades locais e às exigências do mercado de trabalho.
O Governo deve financiar projectos de tutoria liderados por jovens e estabelecer redes de mentores locais para apoiar o desenvolvimento académico e profissional dos estudantes.
O Governo deve implantar ambientes onde os jovens possam propor e testar soluções para desafios educacionais reais, como laboratórios de aprendizagem.
As OSC devem investir na formação contínua de educadores para que utilizem metodologias activas e adaptadas às realidades culturais e socioeconómicas das comunidades.
b) Inclusão digital e papel das novas tecnologias no empoderamento da juventude
O Governo Central deve criar telecentros e espaços com internet gratuita, equipamentos e suporte técnico, especialmente em comunidades com menor acesso.
Que o governo implemente Políticas Públicas de doação ou financiamento acessível de laptops, tablets e pacotes de internet para estudantes em situação de vulnerabilidade.
Que o governo inclua conteúdos como programação, segurança digital e empreendedorismo digital na educação básica, preparando os jovens para a economia digital.
Que o Governo crie incubadoras voltadas a negócios digitais liderados por jovens, com acesso a mentória, capacitação, micro financiamento e redes de inovação.
Painel 2: Educação, Inclusão Digital e Competências para o Futuro
a) Barreiras ao acesso ao financiamento e à formação para jovens empreendedores
O Governo Central deve criar linhas de crédito e bolsas específicas, com critérios acessíveis e suporte técnico, garantindo que os jovens tenham condições reais de iniciar e sustentar seus negócios.
O Governo Central deve desenvolver programas integrados que ofereçam capacitação em gestão, acompanhada de acesso directo a capital semente, promovendo empreendedorismo com base sólida.
Que o Governo descentralizar para os Municípios os serviços do Guché Único da Empresa – GUE para proceder o registo de empresas e acesso a crédito, especialmente para jovens, com apoio técnico gratuito e orientação contínua.
O Governo deve incluir nos currículos escolares temas como finanças pessoais, planeamento de negócios e acesso a crédito, formando uma nova geração de empreendedores conscientes.
b) Iniciativas de inovação social e economia solidária lideradas por jovens
O Governo deve criar e fortalecer políticas públicas e apoio financeiro que incentivem projectos juvenis, com foco em inclusão, diversidade e sustentabilidade, especialmente em comunidades vulneráveis.
O Governo deve integrar a temática à educação formal e não formal, promovendo o protagonismo jovem por meio de conteúdos sobre economia solidária, inovação e empreendedorismo social.
Ampliar espaços de formação, mentória e redes colaborativas, por meio de incubadoras, OSCs e colectivos que estimulem o desenvolvimento de lideranças jovens e parcerias.
O Governo, as OSC e a sociedade em geral devem valorizar e dar visibilidade às iniciativas juvenis, promovendo consumo consciente, financiamento colectivo, participação cidadã e combate aos estigmas sobre a juventude.
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Painel 3: Saúde Sexual e Reprodutiva
a) Acesso à informação e serviços nas comunidades
O Governo deve garantir que meninas e jovens recebam formação adequada e baseada em evidências sobre saúde sexual e reprodutiva, com foco em direitos, prevenção e empoderamento.
As OSC devem sensibilizar pais e encarregados de educação para que falem abertamente sobre saúde sexual com seus filhos, quebrando tabus e promovendo confiança.
As organizações da sociedade civil devem intensificar campanhas sensibilização sobre saúde sexual e reprodutiva, com foco especial em comunidades rurais e marginalizadas.
As organizações devem investir em palestras, workshops e espaços de formação que envolvam os jovens activamente, promovendo conhecimento, autoestima e tomada de decisões informadas.
b) Educação sexual nas escolas: limites, oportunidades e papel da juventude
Que o Governo através do Ministério da Educação garanta a obrigatoriedade de um currículo nacional baseado em evidências, que aborde saúde sexual, afectividade, género e diversidade de forma respeitosa e acessível.
As OSC devem investir na formação contínua de professores para que conduzam o tema com segurança, empatia e respeito à diversidade cultural e de género.
O Governo deve incluir jovens na construção dos programas de educação sexual, considerando suas experiências, dúvidas e formas preferidas de aprendizagem.
Sociedade e escolas devem incentivar a criação de clubes e grupos liderados por jovens, onde se discuta abertamente sexualidade, direitos reprodutivos e equidade de género.
Painel 4: Juventude e o Clima – Acção Ambiental Sustentável
a) O papel da juventude no combate às mudanças climáticas e promoção da justiça ambiental
O Governo deve garantir a participação activa de jovens em conselhos, fóruns e Políticas Públicas ambientais, reconhecendo seu papel como agentes de mudança.
O Governo deve criar fundos, editais e incentivos fiscais específicos para apoiar startups, cooperativas e projectos sustentáveis desenvolvidos por jovens.
O Governo deve fomentar acções como hortas escolares, programas de reflorestamento e projectos de valorização de resíduos sólidos com protagonismo juvenil, conectando teoria e prática.
Que o Governo apoie produções culturais, artísticas e digitais que abordem a crise climática sob a perspectiva da juventude, promovendo consciência e mobilização social.
As OSC devem capacitar jovens lideranças ambientais por meio de formações, oficinas e mentórias voltadas à justiça climática, sustentabilidade e advocacia.
As OSC devem actuar como pontes entre juventudes e espaços de decisão, promovendo articulações e garantindo que as vozes jovens sejam ouvidas e valorizadas.
As OSC devem apoiar e dar visibilidade a projetos ambientais liderados por jovens, criando redes de apoio e plataformas de divulgação para ampliar seu impacto.
Durante o segundo dia da Conferência Provincial da Juventude, realizado a 12 de Agosto data em que se celebra o Dia Internacional da Juventude, foram discutidos dois painéis temáticos que proporcionaram momentos de análise crítica, partilha de experiências e formulação de propostas concretas para fortalecer o papel da juventude no desenvolvimento nacional
Painel 1: “Os 50 Anos de Independência e a Participação Cívica da Juventude”
Neste painel, os participantes reflectiram sobre dois subtemas cruciais:
“A Juventude nos Espaços de Decisão: obstáculos, estratégias e experiências de participação”
“Os 50 anos de Independência de Angola e os desafios da participação da juventude”.
Os debates destacaram a importância de valorizar a juventude como sujeito activo no processo democrático, e de garantir condições reais para a sua inclusão em espaços de decisão e representação política e produziu as seguintes recomendações:
As OSC devem fortalecer a inclusão da juventude nos espaços de decisão, através de quotas representativas, mecanismos transparentes e estruturas participativas a todos os níveis.
As OSC e os partidos políticos devem investir na educação cívica e política da juventude, promovendo a formação em cidadania, direitos humanos, liderança e participação pública desde as escolas até às comunidades.
Que o Governo apoie e valorize iniciativas juvenis, oferecendo oportunidades como estágios, bolsas, mentória e financiamento para projectos de impacto social e desenvolvimento local.
Que o Governo combata a exclusão e estigmatização da juventude crítica, promovendo o diálogo intergeracional, a escuta activa e o respeito à diversidade de opiniões como pilares da democracia.
As OSC devem criar espaços seguros e inclusivos para o debate e organização juvenil, fortalecendo a liberdade de expressão e o engajamento político consciente.
Que o Governo e as OSCs desenvolvam campanhas públicas de sensibilização, destacando o valor da participação juvenil na construção de sociedades mais justas, democráticas e sustentáveis.
Painel 2: “Os Desafios da Nova Divisão Político Administrativa de Angola: Caminho para o Desenvolvimento Equitativo ou Risco de Fragmentação?”
O painel abordou o impacto da Nova Divisão Político Administrativa no país, com destaque para: “O papel da juventude nas políticas sobre divisões territoriais”
Foram analisadas oportunidades e riscos dessa reforma, com enfoque na inclusão da juventude na definição e implementação de políticas que assegurem um desenvolvimento territorial equilibrado e sustentável e foram emanadas as seguintes recomendações:
O Governo deve garantir a participação efectiva da juventude nos processos de redefinição territorial, através de consultas públicas inclusivas e representações juvenis nas novas circunscrições.
Que o Governo local assegure equidade no acesso a recursos e serviços públicos nas novas divisões administrativas, prevenindo desigualdades e promovendo o desenvolvimento equilibrado.
As OSC e o Governo devem promover a educação cívica e o empoderamento juvenil em políticas territoriais, com formações, plataformas de escuta e campanhas de esclarecimento adaptadas às comunidades.
O Governo de fomentar a transparência, o diálogo intergeracional e a coesão nacional, prevenindo riscos de fragmentação e reforçando o espírito de unidade em todas as regiões.
Que as OSC e instituições académicas envolvam jovens em processos de mapeamento participativo e diagnóstico comunitário, valorizando o conhecimento local e promovendo soluções baseadas nas realidades territoriais.
Que o Governo integre a juventude em comissões de planeamento e monitoria territorial, assegurando que suas demandas estejam reflectidas em decisões sobre infra-estrutura, mobilidade, ambiente e serviços públicos.
A Conferência Provincial da Juventude encerra os seus trabalhos com a firme convicção de que a juventude não é apenas o futuro, mas o presente activo e transformador da nossa sociedade.
Num momento em que Angola celebra os 50 anos de Independência e implementa profundas reformas administrativas, os jovens reafirmaram o seu compromisso com a construção de uma nação mais justa, participativa e inclusiva, demonstrando maturidade cívica, espírito crítico e vontade de contribuir para o progresso do país.
As reflexões e propostas apresentadas durante o certame constituem uma base concreta para a formulação de Políticas Públicas mais eficazes, que respeitem a diversidade da juventude angolana e garantam que nenhum jovem seja deixado para trás.
Contudo, registou-se como nota negativa do evento a ausência de vários gabinetes provinciais e Instituições convidados, cuja participação era essencial para o diálogo interinstitucional e a escuta activa da juventude. Destacam-se, entre eles, a ausência do Gabinete Provincial da Cultura, Turismo, Juventude e Desportos de Benguela, do Gabinete Provincial da Educação de Benguela, do Gabinete Provincial dos Registos e Modernização Administrativa de Benguela, bem como do Instituto Nacional de Emprego e Formação Profissional de Benguela – INEFOP e do Secretariado Provincial – JMPLA de Benguela. A presença destas instituições teria enriquecido os debates e fortalecido a ponte entre as expectativas dos jovens e os compromissos das entidades públicas. A sua não comparência representa uma oportunidade perdida de escuta e de reforço da confiança entre a juventude e os órgãos do Estado.
Por isso, reforçamos o apelo: a juventude deve ser ouvida, incluída e valorizada nos processos de decisão. O desenvolvimento sustentável e equitativo de Angola só será possível com o envolvimento real e consistente das novas gerações – e das instituições que têm o dever de servi-las.
No final em decisão unânime, os delegados da conferência designaram o município do Dombe Grande como anfitrião da 11.ª Conferência Provincial da Juventude, marcada para 2026.
Cubal, aos 12 de Agosto de 2025
Os Conferencistas
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